Home Arquitetura A importância do processo projetual

A importância do processo projetual

por Marina Araújo

Oi gente! Tudo bem?! 2016 começou e eu já vou compartilhar com vocês várias novidades! A primeira coisa é que esse é o nosso primeiro post do ano e eu já quero começar agradecendo a todos vocês pelo apoio, pelos comentários, mensagens e suporte que vocês me deram ao longo de 2015. Eu realmente espero que nós possamos continuar com essa parceria durante todo esse ano! A segunda coisa é que como vocês perceberam eu demorei um certo tempo para fazer esse post! Isso porque várias coisas aconteceram nesse início de ano e como eu sou do tipo que só se dá conta das coisas um tempo depois, só agora eu me dei conta que de FATO um novo ano começou!

Não que eu espere muito desse ano, eu estou mais na “vibe” de que o que tiver que acontecer de bom, aconteça! E que a vida me surpreenda, porque não existe nada melhor do que receber surpresas boas! Mas agora, depois de quase duas semanas, eu estou começando a organizar melhor a minha vida para esse novo ano que se inicia. Talvez isso se dê pelo fato de que eu estou tendo aulas no período que normalmente eu estou de férias! 🙁

Pensando nessa questão de faculdade de arquitetura, eu como de costume sempre entro em grupos de arquitetura do facebook para saber o que está rolando de bom por lá. E essa semana iniciou-se uma discussão sobre a questão do processo projetual e como isso hoje em dia está sendo posto de lado e sendo substituído por estudantes e arquitetos interessados em mostrar o produto final, seja um render ou uma planta humanizada, como forma de “venda de projeto”, deixando de lado o processo para se chegar ao produto final. E a questão é que essas pessoas que fazem isso não estão interessadas em críticas e sim em expor uma imagem para receber o máximo de “likes” de volta, como se uma imagem pudesse expor por completo o seu projeto e definisse se ele é ou não é um bom projeto.

 

Orientar-se por processo e não por produto, é a habilidade mais importante e difícil de ser desenvolvida por um arquiteto.

 

A primeira coisa que eu digo sobre isso é que isso me leva à seguinte pergunta: o que é um bom projeto? E como a representação gráfica pode ser usada para expor a capacidade do arquiteto de pensar em espaço e cidade em vez de meramente ser usada como objeto de venda? Porque a realidade que temos hoje em dia é de venda. Grandes construtoras não se importam mais com o processo projetual. O que elas querem é uma imagem boa que consiga vender o projeto para o cliente. E isso me leva à questão do quanto isso tem sido inserido dentro das nossas faculdades de arquitetura. Nós vivemos em uma geração que passa o dia todo conectada ao mundo digital e é compreensível que muitos sejam levados a acreditarem que horas renderizando um projeto fará com que ele seja muito bom. Mas isto não é verdade.

 

Até que ponto o uso de renders é bom para a representação gráfica de um projeto?

 

Eu sempre fui apaixonada por computadores. Sempre amei renders, plantas humanizadas. Não que eu goste por gostar. Eu gosto de fazer isso no computador, eu gosto de mexer em programas. Mas nesses anos estudando arquitetura eu cheguei à conclusão que isso não é tudo. Na verdade comparado ao projeto, isto não é quase nada.

 

A arquitetura é a criação reflexiva do espaço.

 

Vejamos meu caros leitores: a representação gráfica é apenas um complemento ao projeto. Desmitifiquem a ideia de que um bom render é um bom projeto. De que uma boa diagramação é um bom projeto. Porque pode não ser! Uma das frases que eu mais tenho praticado nos últimos tempos é esta: “Um projeto consiste em 70% de planejamento e 30% de execução”. Onde vocês acham que se encaixa a parte de representação gráfica? Talvez em 5% dos 30 % de execução… O planejamento é essencial para um bom projeto. Isto quer dizer que vale mais a pena você se dedicar horas fazendo vários croquis do que gastar horas em um desenho detalhado. Quer dizer que vale mais a pena você gastar o seu precioso tempo lendo um livro de arquitetura, pesquisando referências e se aprofundado no que realmente é arquitetura do que gastar horas fazendo teste de render.

 

Se você não sabe mexer nos programas uma alternativa é de se utilizar o desenho à mão para a representação do projeto.

Se você não sabe mexer nos programas uma alternativa é de se utilizar o desenho à mão para a representação do projeto.

 

Entenda bem, eu não sou contra você gastar horas com um render. A questão é quando você faz isso. Porque se você faz isso durante as férias, não há problemas. A questão é que a grande maioria dos alunos fazem isso durante o período letivo, tudo pela pressão que é feita por aquelas pessoas que sabem fazer isso melhor do que você. Então você quer apresentar o seu projeto da melhor maneira possível. E para isso você precisa aprender a mexer nos programas, precisa aprender a renderizar. E o que acontece? Você gasta mais tempo pensando na questão gráfica do que no próprio projeto. E no final recebe críticas sobre o seu projeto que poderiam ter sido satisfeitas se você simplesmente tivesse mais tempo.

 

A representação gráfica deveria ser utilizada para demostrar o estudo aprofundado do projeto e não o contrário.

A representação gráfica deveria ser utilizada para demostrar o estudo aprofundado do projeto e não o contrário.

 

Ha…tempo! O nosso principal inimigo. Tempo é algo que sempre nos falta, não é verdade? Talvez isso aconteça porque temos o costume de gastar tempo com o que não devíamos. Gastamos mais tempo pensando na representação do que no projeto em si. Muitas vezes não estamos preparados para o quebra cabeça que é o processo de criação de um projeto. Mas bons projetos são frutos de muito, mas muito quebra cabeça. O arquiteto desenha, risca o desenho, desenha de novo, passa dia e noite pensando no projeto. Pelos menos era para ser assim…

As pessoas que resolvem problemas com mais eficiência e criatividade engajam-se em um processo de metarreflexão, ou de “refletir sobre a reflexão”.

Desde que eu entrei na faculdade eu passei por altos e baixos. No terceiro período eu comecei a fazer a matéria de projeto de arquitetura. Naquela época fizemos um projeto de uma vila residencial. Eu lembro que eu passava dia e noite pensando no projeto, desenhando, fazendo croquis, tentando extrair o máximo possível de um processo criativo que parecia não ter fim. Cheguei a fazer nove propostas diferentes de implantação. E se tivesse mais tempo teria feito mais, porque na verdade esse é um processo que nunca acaba!

 

Prancha de estudo das propostas de implantação.

Prancha de estudo das propostas de implantação.

 

Mas no final consegui chegar à um resultado satisfatório, que pensava na insolação, ruído, acessos, circulação, fluxos, desníveis, materialidade, construibilidade, sustentabilidade e tantos outros fatores que influenciam na hora de se projetar. E esse processo gastou toda a cota dos 70% de planejamento. Porque a toda hora eu pensava como poderia resolver da melhor maneira possível o problema que me era proposto.

 

Maquete final

Maquete final

 

E é isso que eu sinto falta de ver muitas vezes em grupos de arquitetura, nos trabalhos e portfólio de estudantes de arquitetura. O processo criativo. Eu posso estar errada, mas eu tenho a impressão que a era digital nos afastou um pouco desta realidade. Nos colocou em uma posição que faz com que uma boa apresentação seja o que define o projeto, em que o uso de computação passou a ser algo imprescindível para a apresentação de um projeto.

Se você é estudante e está lendo esse post, não seja mais um número na multidão de estudantes que fazem o mesmo. Organize o seu tempo, gaste ele com o que vale a pena ser gasto. Porque senão seremos a geração cheia de habilidades, verdadeiros mestres da computação, manipuladores do photoshop, mestres do autocad. Seremos tudo, menos arquitetos.

Arquitetos estudam pessoas. Estudam comportamentos, estudam a cidade e como esse organismo vivo se transforma todos os dias. Arquitetos se preocupam com o bem estar. Arquitetos enxergam o mundo ao seu redor com um olhar crítico. Arquitetos se preocupam com o meio ambiente, com a funcionalidade e entendem de tudo um pouco! Enfim, não vou entrar no critério “do que é ser um arquiteto”, porque aí eu teria que fazer um post só para falar sobre isso. Mas a mensagem que eu quero deixar nesse novo ano que se inicia é esta: pensem mais no projeto e menos da representação gráfica. Mas não deixem de pensar nos dois!

 

Estudo aprofundado e boa representação gráfica são importantes para uma boa apresentação.

Estudo aprofundado e boa representação gráfica são importantes para uma boa apresentação.

 

Se você é um ser humano feliz que está de férias nesse momento, use esse tempo para aprender a mexer nos programas, para aprender com os tutoriais aqui do blog. Não deixe para depois! Faculdade de arquitetura foi feita para nos aprofundarmos em arquitetura e não perdermos tempo com outras coisas. Tenha sempre a consciência de que saber representar bem um projeto é um complemento que todo arquiteto deve ter. É um complemento necessário. Mas não é mais importante que o projeto em si.

Tendo feito este texto enorme eu venho compartilhar com vocês que nesse ano teremos novos tutoriais de arquitetura e design gráfico como também artigos de reflexão, sobre design de interiores e muito mais! E todos os tutoriais que virão serão também feitos em vídeo e serão lançados no canal do youtube aqui do blog. Você pode ficar por dentro clicando aqui e se inscrevendo no canal!

Lembrando que se você gostou desse post é só clicar em curtir aqui embaixo!

Abraços e até a próxima!
Marina 🙂

 

*Fonte das frases destacadas: livro 101 lições que aprendi na escola de Arquitetura – Matthew Frederick

 

 

93Shares

Fique por dentro dos novos posts!

Prometo não fazer spam (nem tempo eu tenho para fazer isso).

Já deu uma olhada nesses posts?

Deixe um comentario