Eu sempre me interessei bastante por outros métodos de representação que não são propriamente imagens super realistas. Acho que existe um certo mistério em métodos de representação que não são realistas. Talvez seja porque estamos acostumados a ver fotografias e as imagens realistas muitas vezes fazem com que possamos reconhecer uma imagem renderizada como uma fotografia, o que acaba fazendo com que não enxerguemos aquela imagem com outros olhos. Não sei, mas eu realmente gosto de pensar em outros tipos de representação e não ficar limitada somente à renderização realista.

Pensando nisso, eu conheci recentemente o trabalho do Atelier Crilo. O engraçado é que eu tinha baixado pelo Issu no início do ano um catálogo com o portfólio deles. Eu tinha achado simplesmente incrível a forma de representação deles. Agora eu descubro que o mesmo Atelier desse portfólio é justamente o Atelier  Crilo! #avidatemdessascoisas

Sobre o Atelier:

O Atelier Crilo é um estúdio focado em Arquitetura. Ele foi co-fundado e é dirigido por Cristian Farinella e Lorena Greco. Eles trabalham com uma grande variedade de serviços para o desenvolvimento de Design e Visualização em 3D.

Porque eles escolheram a Aquarela como forma de representação:

Segundo um post que eu estava lendo um dia desses no site do Ronen Bekerman, o Atelier escolheu a aquarela porque eles queriam experimentar uma nova forma de representação que proveem de outras áreas como a Arte, o Design Gráfico e a História em quadrinhos. Isso porque eles trabalham o tempo todo com pessoas dessas áreas, como Designers Gráficos e Ilustradores. Isso abre um leque de opções e inspirações para o trabalho deles.

Explorando o mundo de design e ilustração

Eu sempre senti muito essa ligação entre a Arquitetura e o Design. É uma pena saber que muitos estudantes de arquitetura ignoram a relação entre esses dois campos de conhecimento. E para mim, o design está relacionado com a Arte, a Arte com a Ilustração e assim por diate. Ao meu ver um Arquiteto é acima de tudo, um Artista. Então, como não conectar esses campos? O Atelier Crilo explora essa relação e tira o melhor proveito delas para a representação dos seus projetos, que incluem os trabalhos de alguns artistas, como:

Gigi Cavenago

Nestes dois desenhos, lado a lado, mostra-se Dylan Dog com a floresta como pano de fundo e o ponto de vista de uma rua estreita, em Londres foi feita com algumas pinceladas ousadas, com base na utilização forte de cor. A escolha da câmera, bem como a dar uma perspectiva forçada dá um sentido forte e dinâmica para as duas cenas.

Outra imagem de inspiração:

Visão geral para a criação de um desenho

Se há um pensamento que temos que ter quando pensamos em um desenho é que precisamos transmitir a ideia do desenho como um todo em um único papel. Para isso é preciso entender primeiramente a estrutura geral que se deseja fazer ao representar o desenho. Entender qual paleta de cores usar e quais sensações serão transmitidas através daquele desenho são fundamentais para uma boa representação.

Estudo de um modelo do Atelier Crilo

Nesse projeto, é clara a utilização de materiais para a transmissão do design. As texturas durante o processo de modelagem foram usados como controle do projeto.

Primeira etapa: O estudo do modelo

No caso do Atelier Crilo, tanto o projeto quanto a parte de visualização 3D são feitos por eles. Assim, trabalhar com um modelo 3D bem detalhado contribui para um bom desenho em 2D, principalmente quando se trata dos cortes. Assim, eles projetam diretamente em 3D, usando texturas e materiais iniciais, sempre considerando os ângulos da câmera para uma posterior visão interior do interior.

Para a modelagem 3D eles utilizaram o Sketchup, que é uma ferramenta perfeitamente capaz de produzir detalhes de alto nível, mesmo sendo um programa relativamente simples de se trabalhar. Tirando o fato de se poder trabalhar com uma seção real em 3D ao mesmo tempo que se produz o modelo em 3D.

Segunda etapa: Exportando o modelo

Uma vez que o modelo está pronto, existem duas opções de exportação: (1) Exportar como raster (.PNG, .JPG, .TIFF), o que é muito útil para a utilização de sombras e linhas ocultas e (2) a exportação em .DWG para o AutoCAD, que é o que eles costumam usar. Lembrando que é preciso exportar na escala 1:1 no caso de desenhos técnicos e selecionar a opção de linhas em vez de linhas de poli para não haver problemas com a largura das linhas.

Abrindo no CAD você tem algo parecido com a figura abaixo. A exportação gera um bom desenho wireframe para ser usado como base.

Terceira etapa: Trabalhando no Autocad

No autocad eles trabalharam de forma a dar profundidade ao desenho, destacando as janelas, as superfícies do interior e as sombras. Também foram utilizadas border lines para dar um realce ao perfil da casa. Houve um trabalho especial focado em criar imperfeições típicas de um desenho feito à mão. Houve a utilização (sem medo) do preto para servir de fundo para a seção. Na imagem final isso é facilmente percebido. O que eles fizeram foi importar diretamente para o autocad algumas fotos e com o poli-line encheram as áreas com um preto sólido. Tudo isso resultou em uma boa base para a aquarela no photoshop feito por um .DWG exportado. Foram também acentuadas algumas áreas do desenho para a expostação do sketchup. O resultado você vê nas images abaixo:

Resumindo:

Se você (assim como eu) não está muito acostumado a usar o Autocad (usuários de Revit levantem a mão o) e quer fazer isso através do próprio sketchup, tudo o que está aqui em cima se resume em:

1. Exportar um desenho com o fundo transparente (.PNG)

2. Exportar um Wireframe

3. No photoshop, criar um layer com fundo branco

4. Sobreponha o layer sobre as duas imagens anteriores.

Explicando:

1: No Sketchup é possível encontrarmos a visão sombreada em preto e branco. Nesse caso, eles utilizaram o modo linha oculta. Para ativar esse modo, basta ir em View -> Face Style -> Hidden Line. Para exportar, basta ir em File -> Export -> 2D Graphic. Exporte como .PNG e escolha um tamanho em alta resolução para a imagem. 4000 a 5000 px é um bom tamanho. Verifique também se a opção de exportar com o fundo transparente está ativada. Agora é só abrir no photoshop.

2: Ative o modo Wireframe indo em View -> Face Style -> Style/Wireframe e exporte do mesmo modo como foi feito aqui em cima. No photoshop, sobreponha essa imagem sobre a primeira e defina a opacidade em torno de 20% a 30%.

Quarta etapa: Trabalhando no Photoshop

No photoshop, crie uma camada e adicione noise (filtro -> noise) para dar um aspecto de papel envelhecido para a camada. Tendo sobrepondo as duas imagens do Sketchup, obtêm-se um desenho completo com sombra e wireframe, que dá profundidade à geometria.

A esse ponto, inicia-se a pintura com brushes (pincéis). O segredo é trabalhar com diversos tipos de pincéis. Essa é a parte mais artística do projeto, que você pode conferir no vídeo abaixo. Olha como eles trabalham com vários tipos de pincéis:

Assim, eles fazem a composição de todo o desenho. Eles inserem também árvores e outros objetos da composição na imagem quando é preciso. Aqui estão algumas aquarelas feita por eles utilizando as técnicas que eu escrevi acima:

Impressionante, não?! Que tal então fazer um teste e criar uma representação utilizando a técnica do Atelier Crilo?

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Abs e até a próxima,

Marina 🙂

*Crédito das images: Atelier Crilo. Site: www.ateliercrilo.com