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Os dois últimos anos da minha vida fazendo mestrado nos EUA

por Marina Araújo

Esse post provavelmente é um dos que eu mais esperei para compartilhar com vocês. Depois de dois anos sem postar aqui no blog (o meu último post foi esse em Março de 2019), eu finalmente  resolvi voltar a postar conteúdos aqui relacionados à minha trajetória como arquiteta e designer de interiores.

Apesar de ter tido um hiatus de dois anos, eu sou profundamente agradecida a todos que me mandaram mensagens e comentários aqui no blog, no meu Instagram e no meu canal, agradecendo pelas dicas compartilhadas aqui e pedindo para eu voltar a escrever aqui no blog. Para mim, esse foi um tempo de auto-descoberta e uma fase que eu precisava focar mais em mim mesma para chegar onde eu estou agora.

Primeira vez experimentando o Fall (Outono) dos Estados Unidos (igual criança).

Pois bem, como vocês já leram no título desse post, eu vou começar fazendo um review desses dois últimos anos. Muita coisa aconteceu na minha vida, e a Marina que vocês conheciam, que estudava na FAU – UFRJ, que compartilhava tutoriais de photoshop e a sua rotina de estudante, evoluiu. E evoluiu para melhor. Ela resolveu terminar a faculdade de Arquitetura e Urbanismo depois de nada menos que seis anos e meio, resolver se arriscar no mundão e mudar de país. Sim, essa mesma Marina que morava com os pais, que estudou inglês sozinha, que estudou em escola e faculdade pública, finalmente teve uma chance de brilhar lá fora. E foi isso que ela fez sem olhar para trás.

Porque eu estou falando em terceira pessoa eu não sei, mas quando vejo a minha história parece que eu poderia escrever um livro sobre essa personagem fictícia que sempre sonhou em estudar fora mas nunca teve oportunidade. No início de 2019, oito meses depois de se formar, eu finalmente tive a oportunidade de vir estudar fora, e cá estou eu, arquiteta, mestranda em design de interiores, formada por uma das melhores faculdades de Design dos Estados Unidos.

O processo e como todas as coisas cooperaram ao meu favor para eu estar aqui parece filme, e isso é uma história para outro post. Nesse post, eu quero compartilhar com vocês um overview dos meus últimos dois anos fazendo mestrado aqui e como isso mudou completamente a minha mentalidade como arquiteta e como ser humano.

Eu vim para a Geórgia para estudar um MFA (Master in Fine Arts) na SCAD (Savannah College of Art and Design). Eu sempre gostei mais da escala micro do que da macro, e eu sempre soube que arquitetura abrangia coisa DEMAIS. Eu queria ir para o específico, para os detalhes e principalmente, eu queria conectar arte com arquitetura. Eu fui capaz de enxergar isso em Design de Interiores.

Em frente à SCAD em um dia de inverno.

A primeira ressalva que eu quero fazer aqui é que o conceito que nós temos sobre design de interiores no Brasil é totalmente equivocado. Para começar, provavelmente você (assim como eu há dois anos atrás) deve pensar que um Designer de Interiores é aquela pessoa dos Irmãos à obra, que vai lá e escolhe as cores das paredes e um sofá bonito para colocar na sala da casa da sua mãe e todas aquelas cores maravilhosas e texturas são escolhidas e em cinco minutos tudo está lindo e perfeitamente decorado.

Porém isso não se trata de Design de Interiores. Isso se chama decoração. No Brasil existe uma confusão sobre o que de fato é um projeto de interiores, isso porque arquitetos são aptos a fazerem projetos de interiores, mesmo considerando que temos apenas um semestre de interiores durante os cinco anos que passamos na faculdade.

Explicação básica de uma planta HVAC em uma aula de iluminação (achei algo mais complicado do que Geometria Descritiva). Em Inglês só para ficar melhor. 🙂

Eu relutei muito para aceitar que eu como arquiteta não sabia o que era interiores. Até que eu cheguei aqui e escutei meu professor falando “Deliverables for this project includes furniture plan, RCP, electrical and Life Safety Plan“. Dessa lista a única coisa que eu sabia fazer como arquiteta, depois de seis anos e meio da FAU, era a planta de móveis (a famosa planta baixa). Eu não fazia ideia de como fazer uma planta de teto (existe planta de teto?), planta elétrica (e isso não é o eletricista que faz?), planta de escape (porque eu deveria saber fazer isso meu Deus?) e todas as especificações que vem junto com elas.

Então o que eu fiz nesses dois últimos anos? Eu aprendi a criar plantas que eu nunca fiz como arquiteta e eu aprendi a entender o espaço pelo ponto de vista do usuário. Hoje eu vejo um espaço e penso em ergonomia, acessibilidade, sensações, ambiência, conforto e qualidade de design. Coisas que eu não dava importância em projetos arquitetônicos ou que eu não percebia o quão importante elas eram.

Tour dentro da faculdade para experimentar o que é tentar acessar os espaços em uma cadeira de rodas. Nada como sentar em uma e tentar abrir uma porta. Já tentou fazer isso como arquiteto?

Esses dois últimos anos me fizeram crescer como arquiteta e me fizeram perder o medo de projetar. Me mostraram o que é um design de qualidade e o que é arquitetura ruim. Nesses dois últimos anos eu pude estagiar em dois escritórios aqui dos EUA, e as oportunidades aqui são infinitas. Pude aprender com profissionais como o processo de design funciona, e como arquitetos precisam de designers, assim como designers precisam de arquitetos. Nesses dois últimos anos eu aprendi a ser humilde, a escutar, a entender e a finalmente, me desvincular dos traumas que eu carregava comigo da FAU, de alunos que competiam para pisar em cima dos outros, de professores orgulhosos que queriam inflar o seu próprio ego e de arquitetura que era feita para ser uma escultura, e não para ser usada por pessoas. Tudo o que eu aprendi aqui provou ser o contrário e me libertou da mentalidade que eu carregava comigo, fruto da mentalidade compartilhada nos muros da FAU de que arquitetos são melhores que todo mundo e que são totalmente auto-suficientes. Essa é a maior mentira propagada no meio arquitetônico das faculdades do Brasil. Arquitetos precisam entender que apesar de estudarem durante 5 anos, ainda existe muito a se aprender. E que a vida real é bem diferente do que o que se aprende na faculdade (eu sei que é difícil aceitar isso, principalmente se você que está lendo está na faculdade de arquitetura).

Me sentindo muito importante no meu primeiro dia de estágio nos EUA.
Visita ao terreno e comparação da planta com os materiais e espaços já construídos
Projeto do escritório que eu estagiei (sim, foram os designers de interiores que fizeram o design que você está vendo nas paredes, luminárias e recepção.
Exemplo de banheiro acessível combinado com um bom design.

Por fim, eu quero compartilhar aqui o meu portfólio desses dois últimos anos e um board do meu projeto final do mestrado (prometo escrever um post falando sobre cada projeto, fiquem ligados no meu INSTAGRAM porque eu estou anunciando os novos posts por lá).

LINK PARA O MEU PORTFÓLIO:

MEU PROJETO FINAL DO MESTRADO:

 

É isso pessoal! Fiquem ligados no meu Instagram para ficar por dentro dos próximos posts!

Um grande abraço,

Marina Araújo

 

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